top of page

A cada duas horas uma mulher é assassinada

O assédio sexual atinge mulheres de todas as idades. Não tem dia, hora e nem local para acontecer

Os botons são presentes de intercambistas estrangeiros encontrados em outros países

Mariza Mattos

Após 11 anos em que a Lei Maria da Penha entrou em vigor,com o intuito de aumentar a rigidez nas punições sobre crimes domésticos, os números revelam dados preocupantes. Segundo dados da Secretaria de Política para Mulheres, no Brasil,uma a cada cinco mulheres é vítima de violência doméstica. Cerca de 80% dos casos são cometidos por parceiros ou ex-parceiros.

As personagens que serão relatadas no decorrer do texto são nomes fictícios, dados para preservar a identidade das fontes.

 

Abuso em números

Um levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela que somente em 2016 o país registrou cerca de 49.497 ocorrências de estupro e 4.657 homicídios e feminicídios. Uma mulher é ASSASSINADA a cada duas horas.

As estatísticas no estado do Paraná também apontam números elevados. Entre 2016/2017 foram 4.164 registros de estupro e 488 tentativas. A delegada, Raisa de Vargas, da delegacia da mulher de Cascavel, relata que até o mês de Setembro deste ano, foram recebidos 60 casos de estupro e realizadas 900 medidas protetivas.

Esses números são exclusivamente de mulheres que vão até à delegacia, ou seja, isso ainda não é a totalidade, deve haver muito mais casos silenciados.

 

 

 

 

 

 

 

 

O transporte é PÚBLICO, o corpo da mulher NÃO

Acordar cedo e enfrentar a rotina do trajeto ao trabalho, já é bastante cansativo para a maioria das mulheres brasileiras, como se não bastasse, elas convivem com a dura rotina do assédio sexual no transporte público. Joana, 38 conta que certa vez, estava indo trabalhar no sábado à tarde e ao entrar no ônibus foi abusada por um deficiente.“[...] eu fui entrar no ônibus e quando eu estava subindo as escadas ele passou a mão na minha bunda, aquele momento foi o fim, jamais imaginei que uma pessoa naquelas condições pudesse fazer isso’’.

 

O fato de ser chefe, não o torna dono

Quando se fala em assédio não existe pior, ou melhor, situação, seja no ônibus, na rua ou até mesmo no ambiente de trabalho a mulher tem a sua privacidade invadida. Maria conta que aos 17 anos, quando começou no seu primeiro emprego, já teve o desprazer de ter que conviver com seu chefe a assediando continuamente. “[...] ele passava a mão em mim, no meu cabelo, no braço e fazia convites com conotações sexuais, era um cara bem mais velho do que eu, casado e tinha filhos”. Eu sentia nojo e ao mesmo tempo medo de perder meu emprego’’.

 

Um segredo guardado por trinta anos

Sonia é mais uma vítima que aprendeu desde cedo a lidar com a dor e o medo. “[...] eu tinha 8 anos. Era uma carro preto que eu me lembro, ele me chamou e perguntou se eu queria doce, eu entrei no carro para pegar o doce e ele abusou de mim’’. O homem sobre o qual ela se refere, a levou para um local distante e a estuprou.

Sem poder contar para a mãe, que era uma mulher muito rígida, ela guardou esse segredo por trinta anos, e apenas hoje teve coragem de revelar à reportagem, com o intuito de ajudar outras mulheres a identificar esse tipo de abuso. Sonia conta ainda que na mesma época, um cunhado tentou abusar dela. Não conseguiu porque algumas pessoas da casa acordaram e ele então não pode praticar o ato.

É gritante o número de assédios, violência ou abusos, porém silenciados na maioria dos casos.Por medo, vergonha ou por não ter a compreensão de que se trata de assédio, muitas mulheres preferem o silêncio.

 

As “Benditas Feministas”

Contra tudo isso e a favor de um mundo mais igualitário entre homens e mulheres, nasce o feminismo, queainda engatinha em Cascavel. Falar desse assunto gera muitas contradições, dúvidas e até mesmo aversão. Apesar de ter alcançado algumas vitórias, ainda há muito para ser conquistado. A advogada Daniele Braz, que participa do grupo feminista de Cascavel, “As Benditas”, fala sobre as dificuldades encontradas.“[...] quando se fala em feminismo, tem que ter cuidado para não afastar as pessoas. O movimento feminista vive uma nova fase, com participação de mulheres bem jovens, que têm um potencial grande de transformação social”. É preciso saber aliar esses movimentos sociais, com os poderes, legislativo, judiciário e Estado. Só assim podemos mudar essa situação’’.

A vergonha que não deveria ser dela. Foto: Daniela Cervi
Patrulha Maria da Penha, responsável por fiscalizar as medidas protetivas. Foto: Daniela Cervi
bottom of page